sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Élio, o canalha...

Por Felipe Medeiros


            Élio é, sem dúvidas, o maior cafajeste vivo. As mulheres sabem disso, e contrariadas admiram sua arte. Aprendeu cedo, ainda guri, que toda mulher é puta, e sempre proclamava tal descoberta  , orgulhoso, ao longo dos alcoólicos encontros masculinos; “enfiei nela sem pudor, gozei dentro. Mulher é tudo p.. mesmo.”
           Jamais fui possuidor de tal desenvoltura. Já até tive breves momentos de muleque-piranha e cafajestagem. Mas não. Não como Élio, o canalha.  A diferença de Élio está no tratamento em que concede às suas vítimas. Ele as trata como animais. Enxergo em uma fêmea uma mulher. Élio enxerga um mamífero capaz de lubrificar-se.
            Certa ocasião, convidei Élio para confraternizar juntamente com minhas amigas em minha casa. Antes de as meninas chegarem, naturalmente discorríamos sobre as melhores opções de bebida.  Ele deixou sua visão bem clara  logo de início e, como se lídasse com uma manada de bois, ponderou a importância de alimentarmos e as tratarmos devidamente, antes do abate. Recomendou que levássemos - além da Vodka e Sprite – uma caixa com chocolates. Perguntei-lhe a razão,  mas afinal por que, Élio, levarmos chocolates? Élio me olhou com desdém, como quem responde a um iniciante despreparado e virgem. Explicou-me então o evidente: “com somente Vodka e Sprite , as fêmeas podem passar mal,  pois devem estar com o estômago vazio, já que nessa estação comem menos. Você quer que ela vomite no seu pau ou passe mal antes de você comer? Se ela apagar ou desmaiar não poderá gemer durante o sexo, além disso, o chocolate concederá a ela mais energia e disposição para procriar. “
            Fiquei surpreso com suas idéias, ele tinha talento. E no exato momento em que a campainha disparava e minhas amigas chegavam em minha casa, senti um frio no estômago. Sempre fico nervoso com mulheres, que ridículo. Antes de abrir a porta, procurei então por ele. Queria saber se  havia sentido um pingo que fosse de nervosismo, ou pelo menos uma leve ansiedade.  Quando o encontrei,  Élio estava servindo água em um pote, uma espécie de vaso antigo grande.
            Não precisei perguntar.

CUMA ?!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Uma História em Comum - Parte II

            Serumano não compreendia o que estava acontecendo. Não acreditava na situação em que se encontrava – tão crítica, tão triste. Ele pensava em tudo que havia feito durante sua vida e não encontrava respostas. Em nenhum momento Serumano agiu com o intuito de fazer mal para sua família, para si mesmo, no entanto o fizera. Isso o enchia com uma enorme culpa e uma sensação de incapacidade...

            Demônio - Serumano, caia na real meu amigo, você sempre foi egoísta, sempre foi maldoso, um grande aproveitador... Não tente se convencer do contrário. Você sabe, e eu sei também: você está muito mais perto de mim do que de um anjo ou qualquer coisa pura. Você sempre soube da sua natureza tirana; sempre esteve intrínseco na sua existência. Não venha me dizer que não sabia do preço; não venha me dizer que você desconhece o seu destino; nós dois sabemos muito bem o que você merece e como essa história termina...

            Anjo – Serumano, é muito fácil escutar o que é supostamente inevitável e conformar-se. No entanto deixe que eu faça minha análise. Você é na verdade um ser muito ingênuo e muito equivocado. Acredita que não tem controle do seu destino; acredita em erro/culpa/punição porque você quer. Sofre enquanto o sofrimento é necessário para o seu aprendizado. Se existem demônios saiba que é somente para que existam anjos...

            Demônio – Cale a boca! Uma intervenção se faz necessária. Os anjos são parte dos sonhos. Desde quando existem sonhos? Nós sabemos que eles não passam de invenções suas para escapar da merda que fez! Não me venha com esse papo clichê de controle do seu próprio destino. Ora faça um filme se quiser falar sobre essas coisas, mas a realidade está na sua cara, nua, crua e inegável. Você destruiu tudo o que os seus pais lhe deram por puro egocentrismo, seu idiota. E agora que é hora de pagar pela sua arrogância você quer ouvir o que lhe é mais conveniente como sempre fez!
           
            Anjo – Esse discurso é cíclico e genérico. Quero levá-lo à raiz da realidade em que você se encontra, Serumano. Você chegou onde está sozinho; pode sair da mesma forma. Será que você percebe o que está acontecendo? Não é nada além da evolução natural. Entretanto você está, como sempre esteve, à mercê da sua própria compreensão da realidade. Perceba que todo o momento é o agora e que, se algo não lhe agrada agora, haverá sempre o futuro – que nada mais é que o agora se protraindo no tempo: a eternidade do agora gera a idéia de futuro quando abrigada pela concepção de tempo – portanto você tem a eternidade para tomar as decisões certas. Isso não deve lhe servir de incentivo para continuar tomando decisões equivocadas; você não pode ter medo de acertar; não pode ter medo de abandonar seu histórico de equívocos; não pode ter medo de estar errado e de se desapegar da falsa identidade que você construiu, do seu orgulho infundado... Não que o orgulho seja algo negativo, mas ele perfaz uma linha extremamente tênue entre a arrogância e a autocomiseração. Basta humildade para você perceber sua arrogância, e coragem para livra-se da auto-indulgência. Falta sabedoria para você equilibrar-se. A questão é: você está preparado para enfrentar seus erros? Você ainda tem dúvidas sobre sua dignidade? Sobre seu direito de ser imperfeito e de reparar sua imperfectibilidade?

            Serumano – Eu não sei! Não sei a quem eu pertenço, não sei quem eu represento, ou, qual de vocês me representa. Quem sou eu afinal? Não consigo deixar de ver coerência nos dois. Anjo, você é tão sublime em suas palavras, tão sedutor. Enche-me de esperança, ouvi-lo. Sinto-me renovado, cheio de energias, um estado de bem aventurança toma conta de mim e parece que tudo isso é real e possível. Mas ao mesmo tempo você parece realmente um sonho. Tanto você quanto o Demônio concordam sobre a minha ingenuidade. Não posso mais ser um sonhador, preciso por meus pés no chão, e você me oferece tanto pelo único preço da minha fé. Se existe uma linha tênue entre arrogância e autocomiseração, também existe entre fé e a ingenuidade. Por outro lado o Demônio parece-me tão rígido. Essa rigidez me assusta, mas parece justa. Não posso acreditar que depois de tudo o que fiz não terei de arcar com nada, nem essa idéia me agrada. Eu olho pra dentro de mim e vejo um talho que me parte ao meio. E eu não sei se eu tenho capacidade para desentranhar-me desta situação.

            Serumano começa então a chorar e agonizar na mais profunda sensação de desgosto que se pode experimentar. Uma vontade imensa de simplesmente deixar de existir toma conta dele. A vontade absurda torna-se uma necessidade. Sua necessidade torna-se realidade. De repente Serumano percebe que não está mais em lugar algum. Não sente mais nada. Somente é convidado para sentar-se e assistir um grande filme da sua vida. Uma Voz Unificada cinge-o como narradora. Por acaso aquele ambiente deixa de ser hostil e passa a confortá-lo.

            Serumano assiste sua história pela primeira vez com impessoalidade e tranqüilidade. Como se estivesse vendo aqueles filmes gravados quando tínhamos 3 anos, onde aparecemos puros, brincando e/ou chorando... Tudo com muita naturalidade. Parece que aquela criança era outra pessoa. Ele permite olhar-se com compaixão; sem julgamentos. O filme vai evoluindo enquanto Serumano vai percebendo exatamente como se deslumbrou com sua mente, como se afastou dos pais, como passou a ser extremamente arrogante... Percebe com muita nitidez que: quanto mais se identificava com sua mente, mais distante estava dos pais e seus conhecimentos; da sua Natureza, do seu Universo, do seu irmão. Ele acreditava ter mérito por controlar a força dos pais; louvava a si mesmo pelo poder da concepção. Louvou tanto a si - tornou-se megalomaníaco. Achou que seria melhor que os pais passando a conceber coisas artificiais. (A concepção é um poder extremamente deslumbrante mesmo, não é?).

             Serumano criava seu mundo em sua mente e o reproduzia no Mundo real. Seu grande equívoco foi não perceber que ele não era o produto da sua mente, mas sim sua mente que era seu produto. A artificialidade de suas criações era justamente o desrespeito de Serumano em relação à sua origem. Ele havia cortado seus laços paternais, e no lugar disso: a idolatria a si mesmo. Como reflexo desta falsa identidade as suas concepções se mostraram também artificiais. A cidade que havia construído nascia morta e silenciosa. Prédios e prédios construídos uns sobres os outros o circundavam não permitindo que ele visse Natureza (fucking bricks on the wall!). O céu poluído cheio de luzes que ofuscavam as luzes das estrelas não o permitia entrar em contato com Universo. A rotina na cidade era robótica, automática, sintética, anacrônica, infeliz... Sua relação com seu irmão ia de mal a pior...
                       
            A voz que sutilmente narrava o filme de forma extremamente afável era quase imperceptível. Serumano começa a reconhecê-la. Parecia uma voz de memórias distantes. E, ao passo que Serumano prestava atenção na voz, uma entidade começava a  se materializar a sua frente como uma grande projeção da presença que sempre sentira atrás dos olhos, na região da nuca. De repente ele reconhece quem sempre esteve ali: era seu Pai. Universo então se pronuncia diretamente a Serumano:

            Universo – Meu filho, sei sobre os seus anseios. Sim, sou eu que estou aqui...

            Serumano – Pai?! Por que você me abandonou?! Por onde esteve todo este tempo?

            Universo – Eu sempre estive presente dentro de você, a minha essência una nunca deixou de existir em nós dois...

            Serumano – Mas então por que o Senhor deixou que eu chegasse a tal ponto? Se o Senhor existe dentro de mim, o que foi, ou, quem são o Anjo e Demônio?

            Universo – Eles são a representação da sua compreensão sobre a realidade meu filho. A forma que você escolheu para aprender o que eu sempre tentei ensiná-lo. Nenhum dos dois existe entre mim e você na verdade, somente representam as possibilidades de manifestação daquilo que É. As diversas vozes da consciência ecoando em você. O paradoxo do Uno. O meu maior mistério...

            Serumano – Não entendo muito bem o que o Senhor quer me dizer... Afinal, o que ainda está ao meu alcance?

            Universo – O Salto Quântico!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Ânsia!

Por: Ramiro Valdez         


          “AHHHHHHHH!!!”. Podia-se ouvir o grito do outro lado da cidade. O tom e o timbre acusavam um desespero sobre-humano. Antes disso, X era igual a todos os outros homens, tinha uma rotina e uma vidinha daquelas, cuja previsibilidade não se arrisca. X não botaria tudo a perder - “felicidade”, estabilidade, etc: valores paradigmáticos sobre os quais apoiamos todo o peso de nossas vidas - com reflexões mais profundas a respeito de seu ser. X não lia, não divagava, não pensava por si. X vendia televisões e eletrodomésticos. Logo logo, seria promovido a subgerente de vendas. X era um batalhador, “trabalha desde os dezesseis anos de idade”, dizia sua mãe. X era gentil, humilde, querido por todos. Numa manhã de segunda-feira fria, realmente fria e cinza, X encaminhava-se à labuta diária, quando foi surpreendido por um moleque de rua - daqueles que passam fome enquanto as pessoas vagam pelas ruas, passam fome enquanto os policiais lhes espancam e ameaçam , passam fome enquanto estão comendo um pão mofado do lixo na frente daquele condomínio de luxo. O moleque - a cara da miséria, os dedos da subnutrição, os olhos da vergonha e humilhação, o corpo: máquina do sofrimento – lhe pediu um trocado, suplicante. X tinha uma opinião bem formada quanto a esmolas: “Não tenho. Vai trabalhar, moleque.”. O garoto, com aqueles olhos opacos, particularmente sombrios, sem mais anseios de brilhar algum dia, nem mesmo com lágrimas de melancolia, fitou por um longo curto instante os olhos de X e lhe disse: “Não é bem assim que funciona, não, senhor.”.
          Algo explodiu dentro de X, ao menos foi o que ele sentiu. Olhou em volta: avó levando a neta para a escola; homem de terno caro falando no celular; mendigo dormindo debaixo da marquise de uma loja; casal andando e brigando e gesticulando; pessoas fazendo exatamente o que deveriam estar fazendo; faces segunda-feirinas surgindo aleatoriamente, numa rapsódia alucinada, voltando a rodar as engrenagens da Grande Máquina.  X, o velho X, isto era o que começava a explodir – melhor, implodir –, causando destroços e uma espessa nuvem de fumaça asfixiante nas entranhas daquele ser. X não sabia, mas estava sendo envolvido pela melodia pesada de uma epifania. Tomou consciência do que estava havendo ali, naquela rapsódia: marionetes marchando rumo ao bem da nação; uma só voz, um só objetivo: “Progresso”. X não era mais X. Não teria como ir trabalhar agora, sentia-se sufocado, sentia que poderia cair morto, ali mesmo, entre as engrenagens, virar guisado de X. Deu amassados dez reais ao garoto, apontou em direção oposta à loja em que trabalhava, e foi. Vagando, percebeu a podridão do castelo de cartas em que vivia, tão frágil e instável – pois bastava a base querer ruir – que só a sutil manipulação e manutenção da ordem dos naipes e números o mantinha arrasadora e imponentemente erigido. Um, dois, três , quatro, cinco; seis, sete, oito, nove, dez, valete, rainha; rei e ás; corações, paus, espadas, ouros - ouro espada sangue; por fim, manuseando e vigiando, a mão que joga. A despeito de sua individualidade, unicidade, havia sido um sete de corações e rolamento de engrenagem por quase trinta anos. Isso o fez sentir um toque frio percorrer sua espinha.
          X andara sem rumo por horas. Estava lúcido como nunca antes havia ficado. Viu a cidade com outros olhos, olhos de quem vê. Assistia agora o espetáculo das árvores sendo acariciadas pelo vento, ululando, como que agradecendo o verde vibrante que pousa sobre elas; as pombas dançando desconjuntadamente, como se estivessem em alguma espécie de transe divino. “As pombas dançam porque querem comer”, pensou.  Começou a se acalmar, deparou-se com uma praça. Sentou-se embaixo de uma pequena árvore, a qual formava algo como uma redoma em volta de seu corpo, protegendo-o, lhe dizendo: “Vai em frente, percorre teu ser.” Fechara os olhos. Escuro. Claro. Claro! Começou: “Se não sou aquele que era, então quem sou eu? Sou? Sim… mas, há algo me faça um eu? Se sim, que é esse algo? Se não, qual o sentido da merda toda?” Questões existenciais brotavam incessantemente da mente para a mente de X, como golfinhos que saltam e voltam a mergulhar no amplo oceano de sua psique. Exaurido, sentira a necessidade de reivindicar seu tempo perdido, ir atrás de sua vida. Desesperado, percebeu a impossibilidade de viver algo que não existe materialmente – “o passado só existe em minha cabeça, e mesmo assim ele é fragmentado e desfocado. Diluído na não-existência!”. X, então, gritou. “AHHHHHHHH!!!”; era a ânsia da alma de sair do corpo. Gritara em vão, a alma chegou até a boca e voltou.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Abertura do Olho Social

De: Pedro Bigolin Neto


                Historicamente, o Poder Judiciário do Brasil foi constituído ainda na fase colonial, beneficiando irrestritamente os metropolitanos. No decurso cronológico, pouco foi feito, até que, na última década, o gigante adormecido parece ter despertado do seu plurissecular torpor: o Progresso parece iminente, ainda que esteja há um bom tempo em nossa bandeira.
                Ao final do século XX, concomitante com o começo do subseqüente, nosso judiciário tem sofrido cruciais mudanças, quais sejam: a Súmula Vinculante, que visa a economia processual, esclarecendo a interpretação sobre pontos controversos do nosso Direito através da Superior Instância; a valorização do Direito Alternativo, corrente esta que, visando a redução da burocracia científica e ampliação da perspectiva humanista e do uso do bom senso (prudens, como sabiamente consagrado na filosofia clássica); a criação de projetos como o Viva Rio, cuja meta é ampliar o acesso à justiça e sanar dúvidas da população mais desfavorecida; e por último, mas não menos importante, a Emenda Constitucional nº 45/2004, que tem como características a recepção de tratados e convenções internacionais como emendas, o exercício mínimo de 3 anos de Direito antes do ingresso na carreira pública e a criação do Conselho Nacional de Justiça que, inclusive, já propôs a adoção de penal alternativas aos crimes não violentos com pena de até 4 anos, como prestação de serviços à comunidade, reduzindo os reincidentes.
                Como exposto acima, de forma deveras sucinta, porém suficientemente objetiva para uma noção de conhecimento acerca do episódio, o Brasil está passando (finalmente) por mudanças, gerando expectativas a todos os cidadãos para que vivamos em um país mais justo e, principalmente, humano, com noção de alteridade.

Publicado em "Realidades e Viagens: XV Antologia" da União Brasileira de Escritores do Rio Grande do Sul

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Uma História em Comum - parte I

               Vou lhes introduzir um conhecido meu (hehe- pros maliciosos). Apresento-lhes: o Serumano. Sua história é muito longa e cheia de peculiaridades e desventuras, no entanto, vou tentar resumi-la a vocês.
            O Serumano nasceu há milhares de anos de uma família que vivia na mais perfeita harmonia: seu Pai Universo, sua Mãe Natureza e seu Irmão Seres. Ele, por acasos do Pai Universo e de sua Mãe Natureza, alimentou-se melhor que seu Irmão Seres. Por conta disso tinha mais tempo para pensar e assim desenvolveu seu intelecto, sua inteligência e sua capacidade para formular conceitos os quais guardava dentro da sua memória de milhares de gigas. Seus conceitos serviam-lhe como paradigmas para seu método empírico de interação com os recursos de sua Mãe (Natureza), que por sua vez, como toda boa Mãe, além de cuidar muito bem da casa (Planeta Terra), somente dava amor incondicional aos filhos. Dessa forma o audacioso e desnaturado Serumano foi capaz de exercer controle absoluto sobre o poder herdado por seus pais. Desempenhou façanhas inacreditáveis ao longo de muitos anos. Ele mesmo, por ser o único criador de conceitos do Mundo (sua casa), denominava suas façanhas ao longo do tempo de “evolução e desenvolvimento”. Quanto a seu irmão: ele ocupava-se em viver em harmonia e desfrutar do aconchego e carícias da Mãe – e Serumano simplesmente o estudava também por seu próprio método. Constatou que ele não havia concebido sua capacidade singular de raciocínio e que por isso Seres não se incomodaria se fosse usado em prol do seu conceito de “evolução e desenvolvimento” que passara a valorar como aspecto preponderante de sua casa (Terra). E seu Pai? Ah, vocês não conhecem o velho Universo? Ele tem seu próprio método de ensino misterioso e indiferente, além disso, ele é muito ocupado com trabalhos maiores para preocupar-se tanto com as picuinhas do pequeno filhinho.
            Tudo corria muito bem na vida de Serumano, no entanto, como todo filho que quer superar seus pais, ele acreditava que já tinha desvendado todos os mistérios concernentes aos céus e à terra e que era capaz de gerir os recursos herdados de forma mais inteligente. Afinal, ele era o único dotado desta impressionante habilidade. Começou então a fazer reformas na casa toda. Acreditava que sua tecnologia traria a solução dos problemas de todos. Criou centros de civilização e cultura (que ele chamava de cidades), novos meios de transporte, novos meios de produção, transação, comunicação.
            Da pecuária à pecúnia, o ainda novo Serumano foi inegavelmente um gênio. No entanto ao longo de todo esse tempo de dedicação intelectual ele perdeu o contato com a sua família. Consumiu-se em sua própria mente e projetos e esqueceu tudo o que seus pais haviam lhe ensinado de maneira sutil. Sua cegueira mental não permitia que ele compreendesse a complexa teia harmônica, natural, sustentável e perfeita criada por Universo e Natureza. Sua ambição e arrogância fizeram-lhe acreditar que poderia construir um mundo conforme seu pensamento. O que ele não havia percebido é que seu pensamento não dava conta de pensar todas as repercussões de todos os seus atos em um futuro distante. Ele deu-se conta de que estava frente a um cálculo matemático incalculável - sua mente não era preparada para tanto.
            Serumano viu toda sua tecnologia ruir e pela primeira vez experimentou um castigo da mãe. Natureza foi desconstruindo toda imundice que ele deixara espalhada pelo Mundo como uma mãe que tem de juntar os brinquedos do filho incapaz. Serumano na verdade deslumbrou-se consigo mesmo e brincou com os recursos dos pais como um tolo narcísico até deparar-se com sua própria infantilidade bestial. Na sua mente – um mundo a parte – começava um grande espetáculo teatral que figurava, de um lado: um anjo ariano; do outro: u Dimônio, CRIANÇAS! É, isso mesmo, o Dimônio existe na dualidade maniqueísta subdesenvolvida do nosso inconsciente coletivo, gente.
 
CONTINUA...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Criança Cósmica

Por: Ramiro Valdez          

    
          Viver é ser. Ser (materialmente) é sofrer.  Então... ser ou não ser? Não ser seria mais fácil? Se eu não fosse saberia, porém se eu não fosse, não seria, e nunca poderia saber como é o não ser. Nada seria. Se nada ser seria nada, como compará-lo a ser? Mas ser enquanto ser humano é ter noção da própria existência. Ter noção da própria transitoriedade, decadência. Orquestrar a vida com sapiência. Rimas surgindo, deveria ter escrito uma poesia. Mas nunca escrevi poesia. Minto. Já tentei. Tentativas tardias. Tardias... tarde em relação a quando? Em relação a quando? A quatro, cinco, vinte milhões de anos. O tempo é a alteração do espaço. Alteração do espaço: efemeridade. Sim, a vida é só uma dança. A música: tempo, mudança. A melodia é bela, eterna. Dancemos!,  a cada compasso estamos mais cansados, e a canção não para. Uma criança cósmica, na sua divina inocência – pureza -, deu à matéria vida, e à vida consciência. Disse,com doçura: “vai ser humano, ama o outro e busca a transcendência”.  Mas a vida consciente da efemeridade ciente falhou em seu objetivo: tirou doce de criança. Agora vaga por aí querendo transformar o ar em ouro, o mar em ouro, a terra em ouro - o amor é ao ouro; foda-se o outro. Mata esse, desmata aquele, desmata mata, “queremos dinheiro e tesouro!” e sem nada aprender, nesse paranóico complexo de Midas, se encaminha à velhice, domingo da vida.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Uma Roda Gigante: Shiva, Shiva, Shiva Shambo! Mahadeva Shambo!

Por: Yam CHristo Reis

             Eu sou ingênuo, mas não me iludo. É muito engraçado isso, cara: como as pessoas se iludem com as sensações artificiais que o sistema social lhes apresenta. Vou ser mais concreto. Eu vejo, por exemplo, pessoas que falam de amor de uma forma que a gente sente que é verdadeira. No entanto estão falando de um amor individualizado, limitado, fragmentado e pessimista. Estão falando de um relacionamento que tiveram em um meio artificial, permeado por valores artificiais e que, portanto, torna-se um relacionamento frustrado. Daí surge uma conclusão equivocada em relação ao amor. Conclusões erradas pelos motivos errados. O amor em si não é intangível, mas a forma como as pessoas amam em um meio artificial o torna. Desacreditar nesse amor que presenciaram acaba tornando-se ordinário. Inspiração para tantas músicas tristes. Causa de tantos entendimentos niilistas e desentendimentos emocionais.

            Final da Libertadores. Milhares e milhares de colorados em uma só voz torcendo por seu amor em comum. Muitos amigos meus são colorados e eles me dizem: cara, não julga o futebol, não tira conclusões precipitadas e não te investe de preconceitos. O futebol une as pessoas. Tu não tens idéia da emoção que é celebrar um título destes em meio a milhares de pessoas que torcem por um objetivo em comum.


{Um parênteses (Quantas pessoas de bom nível intelectual já ouviram falar – inclusive estudaram muito sobre isso- da porra da POLÍTICA DO PÃO E CIRCO! Manjadíssima mundialmente. Percorreu milênios históricos para ter o ápice da eficácia neste nosso país de populismo mundano. Bolsa family e football pra vocês! Macacos azuis de um lado e vermelhos do outro. Olha lá, vai começar e... FIGHT!! Jamais serão! Chamá-los de macacos é uma ofensa gravíssima aos macacos.) longo, porém inevitavelmente necessário.} Perderei algumas visualizações por isso?...
           

            Bem, eu gosto muito de exercícios de imaginação, então imaginemos o seguinte: milhares e milhares de pessoas protestando seus direitos frente seus governantes. Um movimento unificado e simultâneo em todo o nosso país – quiçá nosso planeta - exarando energia em prol de uma sociedade melhor. Ou então – melhor ainda – imaginem milhares e milhares de pessoas em um círculo gigante, todas de mãos dadas, rezando cânticos de amor em uma só voz, dividindo amor e energia numa ciranda magnética de poder jamais antes vista. Isso não seria muito melhor? MUITO MELHOR MESMO?! Hahahahahaha! Isso seria sensacional.
           
            Emoções são diferentes de sentimentos. As emoções podem ser reproduzidas em qualquer lugar, por qualquer motivo, de qualquer forma. Se eu pensar - tentar lembrar um momento ruim – estarei resgatando aquela emoção vivida. No entanto ela não se fazia presente até que eu a resgatasse pelo meu pensamento/memória. Portanto as emoções, assim como o meio artificial e os valores artificiais, são também artificiais. Já o sentimento – aquilo que se sente – esse sim é verdadeiro. A distinção entre os dois somente é alcançada por um grau muito elevado de conhecimento e sabedoria.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

WTF?!?!? Brainstorming

Por: Pedro Bigoli


               Segunda-feira, precisamente às 23:21. Em meio a uma conversa no MSN eu tive uma epifania, por assim dizer. Quando eu emendei "tecnologicamente selvagem rotina" e "superficialmente profundo", vi que a mente tava começando a fertilizar e que alguma coisa ia sair de lá, nem que fosse adubo.

               Caralho! Que mundo é esse em que a gente vive?? A gente estuda pra estudar mais, aí se gradua no colégio. A gente faz a prova pra que a gente estudou todo esse tempo (sim, o vestibular é o foco das instituições de ensino, quando deveria ser MUITO mais abrangente e prático nas nossas vidas) para estudar mais. Depois, a gente trabalha uns 30 anos e quando se aposenta vai ter tempo pra curtir. Charles Chaplin já dizia que a vida começa onde deveria terminar! Primeiro nós somos velho e sofremos todas as mazelas e debilitações físicas e vamos aos poucos adquirindo a responsabilidade de trabalhar. Trabalhamos, juntamos grana e aí vamos estudar. Estudamos, e nossas responsabilidades vão diminuindo, até sermos uma criança irresponsável e ingênua, feliz com as maiores imbecilidades. Os últimos 9 meses passaríamos no útero da mãe, aconchegante berço do ser e, por último, tudo se terminaria num orgasmo.

               Eu sei que isso é impossível, então busco soluções no campo prático. Perplexo com a forma como o mundo se encontra, busco gente que tenha um pouco de humanismo para me relacionar. Esse humanismo implica em uma série de percepções que, quando materializadas e compartilhadas, geram uma sensação muito boa que eu ainda não encontrei palavras pra descrever. É tipo um "!", sabe? Enfim, são essas pessoas que me fazem ver que não está tudo perdido, que o mundo não pode ser mudado, mas o NOSSO mundo pode, esse sim pode. Ora, somos nós quem decidimos o que vai ser de nossas vidas. Nós escolhemos nosso modo de agir, pensar, falar e ser. Ser e não parecer ser ou ter. Na essência mesmo, lá no nosso mais intrapessoal, íntimo e abstrato.

               O autoconhecimento é um processo longo, cansativo e doloroso. Causa medo e desgosto, frustrando expectativas. A questão é aprender a lidar com isso e ouvir o que o nosso Galvão Bueno tem para dizer. A intuição é fantástica e me fez encontrar muitas pessoas com quem mantenho contato e inclusive faço sessões semanais de terapia leiga e mútua. Essa voz, até já referida pelo Yam numa sacada genial, nos responde várias questões quando estamos em conflito ou quando solicitada (ou não).

               A vida é um aprendizado. Nós somos o conjunto de nossas experiências e com elas temos o critério de análise dos fatos que ocorrem sequencialmente, num conjunto de eventos infinito. Cabe a nós, portanto, dar um sentido às várias imagens que demandam significado incessantemente. Com base nisso, a gente pode decidir em que mundo a gente vive. Eu estou tentando mudar o meu e fico feliz por começar a ver os frutos das sementes que eu plantei durante a minha existência.

               Isso não significa que estou contente com o que vejo, pois há acontecimentos que fogem do meu alcance. Mas a moral da história é: sintam mais, pensem mais, sejam mais, amem mais e vivam muuuuuuuito mais. O mais não é cronológico. Aliás, é atemporal: foge das linhas do tempo tamanha a intensidade com que se vive. E é essa nossa efêmera eternidade.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Alguns Registros do Diário Consciencial - Despretensiosamente os escrevi; Despretensiosamente os ofereço.

From: yamreis@hotmail.com
To: yamreis@hotmail.com
Subject: RE: cronica resignação filosófica
Date: Mon, 4 Oct 2010 14:31:24 +0000

            Eu tenho um armário lotado de roupagens. Escolho todos os dias qual roupagem eu usarei. Escolho dos pés à cabeça, também minha máscara, também meu comportamento. Mudo de roupagens até mais de uma vez por dia. Com cada uma delas me apresento frente às exigibilidades sociais. Até o momento em que me econtro com os olhos cansados e não tenho mais força para sustentá-la - sei que preciso voltar para casa. A minha casa não é a minha casa. Ela é dentro de mim, dentro da minha imaginação, atrás dos olhos. Se eu sou louco? Claro que sim, do contrário não teria de onde sair tanto conteúdo. Somente uma uma consciência muito lúcida para ter conhecimento de como funciona a sua loucura. Eu não tenho medo, pelo menos eu estou aprendendo como a minha funciona, e está dando certo. Na verdade eu tenho muito gosto por isso; posso brincar com as possibilidades; posso brincar com as palavras e diversas formas de expressar o universo dentro de mim. Gosto também de ficar observando como isso funciona nos outros. Chego a conclusões maravilhosas. Me deparo com mistérios unos - mistérios do universo. A vida serve pra isso meu caro. Na verdade eu tenho pena de quem ainda não percebeu que viver é ser, e para ser não há que se falar em mentiras e hipocrisias mas tão somente em aceitação da verdade de si. Você precisa trabalhar com a verdade palpável e imperecível do seu ser se quiser mudar a natureza do que você é. E não é fácil fazer algo que é transformar-se realmente. É preciso muito trabalho, muita vontade, muita análise e reanálise. Incidir em erros e erros e erros- parar o mundo, o tempo e o espaço- filosofar, psicodialogar, autoanalisar-se para ser melhor. Ser melhor!

From: yamreis@hotmail.com
To: yamreis@hotmail.com
Subject: RE: cronica resignação filosófica
Date: Fri, 1 Oct 2010 14:04:57 +0000

            Terei sempre de encarar meus resgistros com humores diferentes; olhar para minhas formas passadas com naturalidade é um exercício de auto-conhecimento. Jogar com as cartas na mesa pode ser mais difícil; as vezes pensarão que eu estou blefando; outras pagarei o preço por abrir o jogo. Contudo o grande lance das cartas expostas é justamente retirar-se do jogo, rasgar as regras, brincar com as possibilidades... Não penso em ninguém além de mim; não penso em mim além de ninguém. Nós damos muita importância à opinião das pessoas porque damos muita importância à nós mesmos. Somos meios; não fins. Então por que preocupar-se, limitar-se, comprometer-se? Nós somos os donos, os senhores, os legisladores de nós mesmos. Os únicos que podem permitir ou restringir nós mesmos. Façam suas leis, façam quantas emendas quiserem às suas constituições, a legitimidade é você mesmo, a realidade é a sua, a sua realidade é você.  

From: yamreis@hotmail.com
To: yamreis@hotmail.com
Subject: cronica resignação filosófica
Date: Thu, 30 Sep 2010 14:41:12 +0000


Resignação filósofica.
            As vezes me pego pregando peças sobre mim mesmo. E como é intrigante a forma como nós podemos ser tão intolerantes e exigentes conosco não é? Por que nós deixamos isso acontecer? No entanto, mesmo consciente, estes momentos tendem a ser inevitáveis como parte de um ciclo que está sempre se desenrolando de forma dialética. Chegamos sempre às mesmas conclusões que já tínhamos antes. Acredito que este momento pontual pós-ciclo dialético é ótimo para escrever. É um momento de clareza onde nós podemos enxergar exatamente o caminho mental que percorremos; nossos comportamentos ao decorrer- e é importante registrá-lo para termos um remédio psicológico cada vez mais eficaz denominado memória. Construir e reconstruir quantas vezes for necessário. Um belo sorriso deve ser escancarado para dar-nos leveza; para vermos o caminhar como passear pelos aprendizados da vida rumo à consciência.
            Da próxima vez estarei mais calmo. Vou me lembrar das situações pelas quais já passei para resgatar a força latente. É tudo uma questão de saber usar o bendito remédio da memória. Depois de feita nossa revisão- o período de resignação filosófica- estamos leves e preparados para continuar vivendo sem complexidade. Ser mais feliz do que nunca com as coisas mais simples do mundo. Temos o poder de hiperbolizar as figuras de linguagem da vida... positiva ou negativamente.

sábado, 2 de outubro de 2010

Reflexões sobre o Direito da Loucura

Por: Pedro Bigolin

Partindo do pressuposto de que já não basta o polêmico conceito de inimputabilidade, cabe, consequentemente a nós fazermos a seguinte indagação: o que é loucura? Ou ainda, o que é ser normal? O conceito de loucura não é unívoco. Não se pode admitir que exista um conceito de loucura vagando pelo mundo platônico das idéias, aos poucos sendo desvendado pela ciência. A loucura sempre foi, em todas as sociedades, uma questão de como a pessoa se relaciona consigo mesma, se relaciona com os outros e, principalmente, como vê o mundo e como por este é vista. Alguém pode ser considerado louco em um determinado contexto, e ser um líder, um xamã, em outro.
O que podemos verificar é que prevalece ainda no Direito uma noção desumanizadora da loucura, fruto do desenvolvimento do racionalismo e do positivismo tão arraigados às ciências desde seu princípio. Nesse processo de desumanização, a loucura torna-se uma entidade, equiparando-se à doença. Ela passa a ter uma vontade que supera a própria vontade humana, deslegitimando o tão discutido princípio filosófico do livre arbítrio.
Embora reputando irresponsável e inimputável o louco, porque tomado por uma entidade não-humana com vontade superior à sua, fazendo-se a punição por essa doença – a medida de segurança. Esse instituto pune a loucura, sob o fundamento de nem sempre ser explícito de a desmascarar, arrancá-la do ser humano. E que, se de resto acaba restringindo a liberdade do portador da doença, por via de um internamento que, se no discurso é não punitivo, na prática lhe arranca a liberdade e a voz.
Isso se deve porque ali onde um desavisado vê uma pessoa privada de liberdade por força de uma medida de segurança, o Direito vê diferente: a loucura seria algo não-humano, e a pessoa portadora da loucura seria um esvaziado hospedeiro, cuja vontade fora sobrepujada. “Na situação extrema o louco não age, mas sim é agido. Quem fala com sua voz, quem anda com suas pernas, quem olha com seus olhos não é ele: é a doença.”, afirma Fuhrer¹, imbuído dessa ideologia ao estudar a medida de segurança.
Nesse sentido, a medida de segurança, mais do que uma defesa social, seria uma paradoxal defesa da pessoa portadora da doença mental contra a sua própria loucura. Ou seja, o objetivo declarado dela seria salvar o louco de sua desumana insensatez, o que não deixa de ser paradoxal.
Baseada na concepção kantiana de pessoa como fim, e não como meio, a cultura ocidental resgatou o conceito de dignidade da pessoa humana, notadamente após a segunda guerra e seus horrores. A Constituição da República Federativa do Brasil, na verdade, o elege como fundamento no seu artigo 5º. O problema é quando se fala em dignidade para os tidos como loucos e psicóticos, no plano tradicional da visão sobre a loucura. Ao tratar da dignidade, os autores buscam sua raiz na autonomia, na sua autodeterminação, sem ser compelido por forças externas. Porém, nada se fala no tocante à autonomia tolhida pelas forças internas.
Sendo assim, é preciso que se construa uma noção de cidadania que não seja externa ao próprio psicótico, que não o exlua a priori por estar além ou aquém da sua própria capacidade enquanto ser humano pleno e diferente, como de resto todos nós somos.
Outro aspecto a ser evidenciado é que, analisando os princípios atinentes ao direito sanitário e neles constituídos os princípios atinentes ao sistema único de saúde, há uma contradição gritante entre a medida de segurança penal e o discurso ideológico que a lastreia, considerando-se que os estabelecimentos onde se cumprem as medidas de segurança são considerados estabelecimentos hospitalares (art. 99 do Código Penal) quando, estranhamente, não integram o sistema único de saúde e sim o penitenciário. Isso significa que não são regidos pelos princípios do SUS (CF art. 196 e seguintes, Leis nº 8080 e 8142/90), mas pelos princípios da execução penal (Lei nº 7210/84).
Notoriamente, não é fácil entender como um penalista e um constitucionalista poderiam harmonizar essa contradição principiológica. Afinal, a instituição do hospital público e a instituição penitenciária são regidas por princípios absurdamente diversos e incongruentes entre si. Portanto, não há como defender que a medida de segurança tem natureza sanitária e não punitiva sem evidenciar a contradição de um “hospital” submetido ao sistema penitenciário, e não ao Sistema Único de Saúde.
 À medida que os estudos da complexamente e humanamente mente do nosso ser evoluem, já é possível dizer que todos apresentamos algum tipo de neurose, mania ou psicose. Isso implica dizer que aquela sua vizinha que passa o dia inteiro na janela é louca, o executivo multimilionário que vive cercado por armários em ternos é louco (e os armários também). Além desses, aqueles que regulam o nosso modo de viver, agir e pensar também são loucos! Vocês são loucos! Eu, o Yam e o Felipe somos loucos, muuuuito loucos! Até aí não necessariamente representa uma ameaça à sociedade, conquanto não haja nenhum Simão Bacamarte com uma Casa Verde, pois essa não comportaria a inúmera demanda de internações sugeridas pelo Alienista.

Trabalho apresentado na disciplina de Psicologia aplicada ao Direito (não falei de nenhum deles durante a apresentação, antes que algum engraçadinho pense nisso hehe)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Re: Crônica - Pra Falar de Amor‏

Yam, meu amor, tu és poeta! Que coisa, estou tão surpresa... uma bela surpresa! E me senti super honrada de ser a primeira a ler teu texto poético. Fiz algums mínimas modificações, coisas de vírgula, esses/estes, etc. (o texto revisado está logo abaixo), mas quando se trata de poesia, há mais liberdade, a tal da liberdade poética, onde quase tudo é permitido.
Manda sempre os teus textos, eu adoro.

Só uma pergunta: a musa existe? Ou ela também foi inventada, como o amor?
Beijos e saudades de uma ilha distante.




             Coração, hoje eu sonhei contigo. Acordei o homem mais feliz do mundo. Na verdade não sei dizer se eu sonhei ou realmente te vi. Eu vi muito mais do que os meus olhos jamais puderam enxergar. Tamanha luz que emanava de nós dois ofuscava e comprometia minha visão. Mesmo assim, Coração, era tudo tão lindo. Não sei se eu consigo chegar onde a gente estava. Não sei se eu consigo explicar o que aconteceu. Mas agora uma parte de mim a ti pertence; pelo menos até que tu permitas que eu arrume as minhas coisas e vá de novo.            
           
            De novo; eu já fui antes. Este espaço vazio que eu tenho dentro de mim esteve sempre à espera do seu perfeito preenchimento. És tu que me fazes completo agora. Eu dependo de ti para sonhar de novo o sonho que outrora eu fui. Nós fomos. Perfeitos. Perfeito. Uma só doce e iluminada perfeição. Com certeza, tu és o meu caminho até o divino. O mais perto que eu cheguei do amor verdadeiro.

            ...

            Mas na verdade, como eu, tu és mortal. Neste mundo material tudo perece; tudo morre; tudo acaba. Do sonho, eu acordo. Do amor, eu me desapego (rasgo o meu coração costurado no teu - sangria desatada- sou forte- agüento). Do divino, ilusão. O tempo passa e corrói tudo e desintegra e mata e apaga. Sem vestígios. Tu não precisas mais de mim como eu de ti. E eu já sabia disso... Desde o início, eu sempre soube. Em agonia, hoje vou dormir o homem mais infeliz do mundo.

            Mas Coração, saiba que este meu espaço vazio será preenchido novamente. Assim como o teu; esse está sempre esperando por novas figuras capazes de interpretar o teu Coração. Este amor potencial será utilizado por novas pessoas. As formas mudam; rostos, personalidades, vibrações. Vou do céu ao inferno mil vezes para entender o que agora eu te explico:

            Eu me enganei, Coração. Este amor não é teu. Nunca foi. O amor que eu tenho por ti fui eu quem criou. Esse sonho tão lindo que eu vi, veio dos meus próprios olhos. Essa beleza toda que eu sintonizei é a beleza que habita dentro de mim. A perfeição que eu toquei... Meu Deus, a perfeição que eu toquei!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O Exercício

Por: Yam CH. Reis           

            Opa, tudo bom? Como estão? Seguinte, hoje eu quero propor um exercício para vocês tentarem junto comigo ao passo em que lêem. Tive esta audaciosa idéia um dia destes. Não sei se vai ser exitosa – acredito que não- mas vou testá-la convosco.

            Primeiramente permitam que eu faça uma breve introdução. Eu escrevo por dois motivos básicos: porque é importante para mim, para que eu possa esclarecer pensamentos, projetá-los em escritos, e assim livrar-me destes; porque eu acho que quando escrevo sobre um conflito das profundezas do meu ser estou a escrever sobre um conflito de todos os seres, e, se a mim esclarece idéias, espero que a vocês faça nascer idéias, mutar idéias, confundir idéias... Enfim, qualquer alteração em um estado inerte e esquecido ou não muito valorizado já é um grande passo para um homem, também para humanidade.

            Para este exercício preciso que vocês leiam com muita concentração, com muita vontade e com muita imaginação. Leiam len–ta-mente. Não prestem atenção no texto em si, mas em suas mentes. Tentem fazer dar certo. Tentem sentir de fato o proposto. Depende muito mais de vocês do que de mim.

            Pois bem, vamos aquecer ao ler o seguinte: na verdade eu não creio que eu simplesmente escreva algo. Eu somente me concentro ao máximo para psicografar esquizofrenias. Relativo? Acredito que todos escutam vozes dentro de si que dizem coisas em comum. O timbre, o tom, as particularidades da sua voz é simplesmente uma possibilidade de ser fragmentada de uma mesma voz que é. Neste exato momento o que você lê está sendo narrado em sua mente. Preste atenção na voz que narra. É a minha? Não. É a sua própria voz. A nossa. A minha. Sim, eu que estou aqui... Não negue a minha presença, apenas sinta.

            Imagine comigo: Nós estamos (você) em um lugar totalmente escuro. Somente você existe neste lugar onde nada se vê. Na sua frente existe um grande espelho. Você me enxerga neste espelho. Eu sou você refletido, a voz que narra. Eu sou o que você enxerga que você é. Eu sou o seu Ego. E não sou você de fato. Você não é o que enxerga de você, mas o que sente mais intensa e profundamente que É!
           
             Feche os olhos e concentre-se nisso.
           
            Você está olhando para mim (você no espelho) ainda sendo você. Olhe para baixo. Você tem uma arma nas mãos, a engatilha, mira para mim (seu reflexo), e dispara na cabeça.
            Assista sua trágica morte...

            Sinta a sensação de matar você mesmo, porém ainda não matou a mim, a voz que narra. Preste atenção em suas mãos agora. Você ainda tem a arma nas mãos. Aponta para nossa própria cabeça desta vez. Dispara!

            Viu alguma coisa? Sentiu algo? Um freme escuro? Claro? Uma sensação esquisita?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ruínas e a Esperança

Por: Felipe Albuquerque                   


               My lips like sugar. Doce açúcar de nossas lindas. Fêmeas , que sem se dar conta dão graça às vidas. Dão graça à vida do Elisando da padaria, do Josué da imobiliária, do Carlos, o mendigo. E, também, dão graça à minha vida. Então lhe pergunto: por que você, caro amigo, vive durante os cinco dias úteis da semana? A resposta é simples. Porque sabe que há de vir o final de semana. Toda semana precede seu próprio ápice, o cume, a recompensa, ou ao menos a esperança de achar uma menina interessante: ah, o fim de semana!
               Você pode ser um verme, o qual passa todas as sextas e sábados se chapando a noite inteira e não se relaciona com alguém do sexo oposto há meses. Vai na cidade baixa e gasta toda sua grana em drogas, e todo o dinheiro que não gasta com álcool é consumido em laricas podres de ambientes inóspitos e gordurosos, a exemplo de Speed, Dog do Élio ou Dog do Gordo. Digo, você está frequentemente completamente chapado e lesado nos finais de noite, sem conseguir trocar simples palavras com uma mulher, e dá uma nota de 5 reais para pagar a cerveja de 2,20, a moça gorda que trabalha no balcão lhe pede 20 centavos para facilitar o troco, mas você não compreende porque está chapado e não entende nada, pensa que ela está tentando lhe roubar, lhe ludibriar, passar para trás. Todos estão te observando, e é difícil ocultar de sua expressão facial os distúrbios e inseguranças consequentes da pressão social. Você só quer ingerir toda a gordura daquele xis fedido e molhado logo, para então dormir e acordar arrependido.
               Mas os contextos também mudaram. Antigamente, você via esperança nos finais de semana. A beleza dele era que todos eram como o primeiro. Sua esperança se renovava: uma gatinha que lhe achasse lindo, uma bela prenda a qual desse fartura à sua tiriça. O olhar de uma menina seria como um renovador de forças, a vazação de uma gostosa lhe concederia energia para continuar. Como um checkpoint do Mario Kart, a vazada lhe dava saldo para permanecer saindo por mais duas semanas e meia.
               Hoje, você já sabe da ruína que lhe aguarda nas podres ruas da CB. Mas a inércia lhe conduz ao pecado. O colégio desperta a mais profunda nostalgia e agora o capitalismo reina. Pensamentos destrutivos começam a surgir; mulheres só querem dinheiro, o ser humano é egoísta por natureza. Mas mamusca te cobre com lençóis e dá boa noite. A cerveja nos aproxima e a vida é podre. Mas é boa.
               “My lips like sugar”. No que te faz pensar essa frase? Talvez você seja um ignorante em inglês e não pense em absolutamente nada. Pois lhe traduzo: meus lábios como açúcar. Passei dez dias na cidade maravilhosa com alguns amigos ano passado. Por isso me lembro do Rio de Janeiro. A música tocava sempre nas festas, e as cariocas rebolavam. Não só rebolavam, mas também bebiam goles em câmera lenta, conversavam entre si em bares e cigarros sacados e acendidos de forma muito sensual. E eu filmava. O sotaque, o jeito, a magia. Tudo me encantava nas cariocas. A vida que sob certos aspectos pode ser tão fascinante.
               A cidade é do caralho. Fomos ver um jogo do Grêmio em um bar onde passavam vários jogos simultaneamente, isso no final de tarde. Conhecemos duas meninas viciadas em futebol que falavam do Botafogo e Fluminense. Eram a sujeira, mas fodase, convecemos elas a ir para onde estava hospedado o Hique e outros gaúchos maconheiros. O bar era perto da avenida de Copacabana, pegamos a avenida e andamos uns 20 minutos a pé até chegar no matadouro. Entramos no ap e Biel estava pelado e completamente chapado. Essa cena fez com que elas quase desistissem e voltassem, mas insistimos muito e elas, depois de algum hêsito, decidiram ficar e interagir com esses estranhos meninos. Fumamos um baseado da lenha Porto Alegrense. Elas não fumavam muito, davam curtos pegas e passavam logo para o próximo, quase que só para não fazer desfeita.... Estou cansado, outro dia conto o resto dessa interessante situação.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Primo Normal De Minha Cônjuge

Por: Felipe Albuquerque




               Chamava-se Júnior, mas era sutilmente apelidado de Estuprador. Estuprador, sim, assim chamava-se o único primo de minha esposa ainda lúcido, e que, portanto, cuidaria das crianças. Elas estariam também sob os cuidados de Billy da Pedra, seu companheiro de quarto, que estava de dieta e pesava 40 kilos. Estuprador mostrou-se um rapaz calmo e equilibrado logo em nosso primeiro encontro, quando estava escondido de baixo da cama, completamente nu, com um espeto na mão a olhar fixamente para a ratoeira que preparara. Achei estranho, mas pude ficar tranqüilo e ter total confiança de que ele não era louco, quando me explicou que estava, afinal, apenas tentando matar um suposto rato voador com o rosto de lúcifer, o qual não parava de gritar seu nome e convidá-lo para tomar chá no inferno. -Que alívio, pelo menos louco ele não era. -Para me deixar ainda mais a vontade, vestiu seus andrajos e me fez a proposta quase irresistível de tomar um alucinógeno chamado Portal do Inferno, mas, não sei exatamente por que, algo naquela droga me dizia que não seria uma boa idéia.

domingo, 12 de setembro de 2010

Devaneios Sobre Aquele que Não Discerne

Por: Pedro Bigolin


            Era uma bela quarta-feira e eu estava perfeitamente em harmonia com a minha escrota rotina no meu Mercedez-Benz com motorista particular que, solidariamente,  faz paradas em locais combinados para altruisticamente abrigar mais passageiros da agonia, pois não possuidores de meio de locomoção próprio.


            Me deparo então com um homem, de aproximadamente 50 anos, com síndrome de Down. Na medida em que o omnibus freava para receber mais gente, o rapaz imitava o grunhido das pastilhas de freio, sem hesitar por um segundo que fosse em repetir a sonoplastia. Ele não pensava que havia uma dúzia de pessoas que não estavam gostando, ou que não estavam prestando atenção, já que o estresse os mantinha em bolhas acústicas, ou, ainda, ele não pensava na maldade com que os outros o enxergavam.

            Ele não pensava (?). Ao contrário da maioria, eu estava gostando, não só porque me fez tetiar horrores no meio desse mecânico cotidiano, mas porque eu percebi que ele estava feliz. Sim, feliz! E só por imitar uma máquina em pleno funcionamento. Ele pensava, mas sem a malícia de um adulto. Era uma felicidade ingênua, pura, infantil. Fiquei feliz em vê-lo feliz. Isso me fez pensar em até que ponto é válido o discernimento sobre a existência, se não sabemos fazer uso deste. Melhor não ter então. Porra, ele tem problemas muito mais sérios que os nossos e está lá, rindo sem motivo enquanto um bando de gente saudável se preocupando com tanta mediocridade!

            Em meio aos "rrrrrum, úúúúúúrrrrrshhhhhh" ele olha pra trás, me percebe ali e faz um gesto, sorrindo: "(y)". Ganhei meu dia com essa demonstração transparente de bom humor. Foi tipo: "Relaxa meu velho e curte, só curte." Eu devolvi a gentileza com um posterior suspiro, que purificou minha mais profunda amargura, olhando para fora e vendo que o dia estava lindo, e isso me bastava, numa sensação de completude. Duas paradas depois eu desci e, olhando pra ele repeti a saudação e ele respondeu, extremamente risonho.



 Então é isso aí gurizada... :D (y) pra todo mundo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Tic-Tac Tic-Tac Tic-Tac Tic-Tac Tic-Tac Tic-Tac...

Por: Yam CH. Reis


          Tempo, tempo, tempo. Quando serei capaz de desvendar todas as suas artimanhas?

          Hoje meu diálogo é contigo. Será que conseguirás responder o bombardeio de interrogações que guardo pra ti desde que despertei na tua casa? Como podes ser tu um cara tão contraditório? Pois se há pouco tempo atrás me disseste que seria pra sempre. Ao menos parecia... Ah, sim! Desculpe-me. Recordei-me que me avisaste que tu passarias por mim. No entanto nunca te vi passar! Vistes como és contraditório?

          Sim, és um cara muito contraditório. Amadurecer é o que? Existe a conotação de tempo mas não necessariamente a implica sempre. Envelhecer é o que? Implica sempre o tempo, mas não necessariamente a maturidade. Eu tinha ambições há pouco tempo atrás. Ambições frustradas porque tu passaste muito rápido, nem te vi p* no c*! Olho pra trás e vejo registros do que eu fui. Lembro de tudo perfeitamente. Dentro de mim acredito que tu ainda não passaste. Por isso lembro-me tão bem. Sou o mesmo que fui, porém diferente. Como pode isso SER?

          Eu não te vi passar, só posso estar louco, pois fiquei atento o tempo inteiro. Prestando atenção em tudo o que fazia, era tudo tão real, mas hoje não é mais nada, virou nada. Os registros que disse que vejo não são mais nada a não ser registros de outra pessoa, que parece continuar naquele mesmo lugar, vivendo aquele mesmo momento, sendo. E eu?! Aonde eu estava? Aonde eu estou agora? Parece que estou em um presídio atemporal. Olhando para trás, tentando entender como o tempo chegou até mim quando eu nunca cheguei até ele.

          Minhocas. Maldito tempo, creio que tu estás a me chacotiar! Vamos, fale algo, responda!



...



          Essa é a resposta do tempo. É tudo o que ele sempre te dirá: nada. E respondendo nada ele continua me fazendo pensar e pensar. Enquanto eu penso o tempo passa. Mas o que é realmente estranho é que eu fico olhando, observando, percebendo, sentindo tudo, e nada acontece... Até o momento em que – de repente!- tudo já aconteceu.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

3ª Crônica - A Inaugural

Por: Yam CH. Reis


                    Acordo. Banho. Café. Trabalho. Almoço. Trabalho. Café. Faculdade. Durmo. De segunda a sexta os meus dias úteis tem uma simetria  perfeita. Se não fosse pelo final de semana (dias inúteis, Lei da Lógica), em que me mantenho inerte em estados de consciência alterado, seria difícil contar os anos (48 finais de semana). Resultado do diagnóstico: uma profunda cisão que racha um único ser humano em diversas personas. "Não entendi, como isso se dá Dr." Eu explico: você aliena sua mente durante um cotidiano robótico seguido de um final de semana de picos de atividade cerebral, principalmente nos domingos filosofais, que fundem sua caxoleta ao ponto de você perder-se em um labirinto de personagens egóicos dos quais você não lembra mais qual deles é. "Se fuder Dr. que porra é essa?" Não consiguerei explicar pra você pequeno aprendiz, você é arrogante, e apressado, precisa de um psicólogo.

                     Infelizmente, o Dr. é burro e não percebeu que o meu tempo não tem mais tempo pra psicólogos, e eu já o havia informado disso. No meio de muitos ambientes percebo o quanto estou sempre acompanhado de relações superficiais, de pessoas que te adoram ou odeiam por um período médio de 5 minutos. Quanto mais acompanhado, mais solitário. E nessa relação inversamente proporcional o meu tempo é cronometrado minuto por minuto, mesmo assim, não encontro o tempo do psicólogo.

                       Bom, eu confesso que não leio muito; e confesso, de toda balela do Dr. uma coisa é verdade: sou arrogante. Escrever com certeza é mais fácil que ler, principalmente nos dias de hoje que digitamos até 5 t/s (teclas por segundo). Se eu conseguir fazer com que as pessoas leiam o que eu tenho pra escrever eu praticamente pulo um grau na escada evolutiva da vaidade intelecto-cultural. Ou seja - sou lido, não leio. Tive a idéia então de escrever tudo o que eu ia falar para minha psicóloga (prefiro mulheres) e fiz isso umas duas vezes. A primeira quando fui comparado à um escritor - eu gostava daquela persona: tinha cabelos compridos e um cavanhaque riscado, hehe- escrevi então sobre meu encantamento justamente com a pessoa que me comparara, e pus pra fora minhas frustrações em relação ao angelical sexo oposto. A segunda, não fora um final de semana, mas sim um feriado de estado alterado de consciência, porém nada inerte como os de costume. Foi produtivo! Voltei então com algo a dizer; escrevi uma mensagem que espero ter se dissipado permeando mentes inquietas e curiosas como a minha.

                        Sou arrogante. Disso eu nunca duvidei. 6 em cada 10 pessoas me dizem isso. As outras não dizem nada. Eu tento deduzir sempre. Nunca chego a saber ao certo o que as outras malditas 4 pessoas pensam. Mesmo assim, temos uma maioria. Enfim, hoje escrevo pela 3ª vez o post inaugural do meu Blog - juntamente com outros dois amigos geniais os quais se apresentarão a seguir- o qual o nome já diz tudo. Nós vivemos entre a loucura e a lucidez, em uma zona limítrofe tão estreita, pior que corda bamba, que não sabemos ao certo aonde realmente vivemos. Ou como realmente vivemos? Por quê? Pra quê? Pra quem? Quando realmente vivemos?