sábado, 26 de fevereiro de 2011

Filho da Puta

Por: Felipe Albuquerque


          "Pluto", bem, talvez não seja um nome tão feio. Digo, há piores, ou deve haver: conheci em outra ocasião um banqueiro o qual chamava-se Filho da Puta. Oh, terrível martírio em sua vida, escurecida e fadada por causa de um nome. Somente um nome, nada mais, e poderia causar tantas desgraças. Filho da Puta trabalhava no setor público – fartamente remunerado, rapaz bonito, alto e embelezado por cintilantes olhos azuis. – No entanto, de nada adiantariam quaisquer qualidades, diante de que chamava-se Filho da Puta.
          Meus pais não foram tão cruéis. Pouparam-me de tal infortúnio e vergonha.
O único problema de “Pluto”é a inevitável associação. A analogia com “puto” é iminente e certa. Certa ocasião, fui apresentado a um menino de 5 anos de idade, filho da garota com quem estava saindo há algumas poucas semanas. Parecia uma criança gentil. Inofensiva, jamais perceberia o triste trocadilho que rondava meu nome. Crianças são puras e desprendidas das malevicidades e crueldades advindas na vida adulta. Quando ouviu meu nome, porém, o menino sorriu de imediato, e não hesitou absolutamente nada em me chamar de veado, dizer que nunca aceitaria um padrasto gay e chutar minhas bolas com raiva. Ora bolas, jamais seria humilhado por uma criança a qual nem mesmo ejaculava ainda. Teria de tomar uma atitude de homem, sim; adulto, seguro e resoluto. Tentando, então, abafar a constrangedora situação, respondi:
          - Menininho, quantos anos você tem?
          Ele me sondou irritado:
          - Cinco, seu bosta. E você, Pluto, ... quer dizer, Pluto?!
          Droga, o menino era rápido, pensei. Previ o perigo iminente, a possibilidade de ser humilhado ali mesmo, nocauteado em palavras por uma criança. Maldita. Tentei relutar:
          - Tenho alguns a mais que você, e...
          Fui interrompido.
          - Cala boca, putão, vou mijar na sua cabeça se você não sair de perto de minha mãe.
......
          Episódios como esse se decorreram ao longo de minha vazia adolescência. A cor de minha vida acinzentava-se em pó e falta de sentido, ao passo que, pouco a pouco, compreendia minha mente confusa. E tal mente não me falhou quando realmente precisei.  Ela, pois, criou a vida no meio do nada, a água corrente e gelada no escaldante deserto. Decidiu - transbordando-se criatividade - que Pluto morreria; não pulando do sétimo andar, mas simplesmente sendo substituído por outro nome o qual me orgulhasse. Sendo assim, foi em uma quinta feira monótona que nasceu Vampiro Latino.
          "Enorme prazer em te conhecer, mundo, espero que não sejas pequeno para mim." , foi a primeira frase de Vampiro L. Uma frase contundente e expressiva, digna de uma alma sem coração, sedenta por sangue.
          Vesti meus tênis escuros, azuis claras calças de brim. A camiseta preta desbotada me tornava magro e sério no espelho da sala. O espelho que agora estranhava o outro menino que via. O cabelo para me dava certo aspecto decidido....