Por Ramiro Valdez
Quando caiu-me a última máscara,
estive mais perto de mim,
E pude ver, no reflexo do espelho,
Os olhos brilhantes de um anjo
Espreitando perplexos a face da fera,
O molde de barro que encerra
Um bicho do céu no corpo de Terra
O espanto foi tanto
Que fugi de mim mesmo
E me escondi na sombra.
Correndo louco no escuro a esmo
O corpo nu, vibrante de medo
Me vi afundando na lama...
Reluz vagamente a longa
noite.
Voltarei um dia a sorrir a
velha liberdade?
Os caminhos que já percorri
Nunca mais serão os mesmos
Sinto mais frio, a casca arfante
busca o ar cortante da noite.
Dissolvido na lama, percebo
que sou o pântano.
Longas raízes cravadas na terra profunda se nutrem do lodo.
Este é o pântano profundo
onde tudo é podre
e é vida pulsante
e forma latente.
Este sou eu, vendo a mim mesmo
no sonho de lama,
inebriado e asfixiado pela vida escondida
lá dentro.