sexta-feira, 26 de outubro de 2012


‎"eu?
eu não sou nada
nem ninguém
me movo de nenhum lugar para lugar algum
falo mudo no silêncio
me faço presente na ausência
na essência de tudo
roubo significado de todo conteúdo
dou ordem ao caos
bondade aos maus
malevolência aos bons
carência aos demais
não terão minha atenção
ação na não ação
sou o vento que te descabela
sem pedir permissão
absorto na meditação
a chama da vela
há quem me escute - sou som
quem me escuta, canta
desencanta o dom
de falar aos demais
que eu não sou nada nem ninguém
mas estar comigo é a paz
no seu mais absoluto e precioso sentido
que a paz esteja contigo
também
e muito além disso
eu espero por ti
no fim do abismo"

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

GAIA GENETRIX















Segunda feira assisti a uma palestra do Prof. Ingo Wolfgang Sarlet sobre o Princípio da Proibição do Retrocesso Ambiental (tema do meu TCC mais a sua aplicabilidade nos casos de Belo Monte, o Código Florestal, o Código Ambiental de Santa Catarina e a PEC 215 temas indicados por Adriano Reis e Pedro Christo Reis) , motivo pelo qual lhes dedico este texto. Eis que, para mim este é o próximo passo que eu não sabia que viria, mas o pressenti, portanto, quem fala por mim é a sincronicidade, pelas palavras de Fraçois Ost, que encontrei no caminhar do meu TCC, a vida é assim, nos põe diante das situações, e nos resta saber o que fazer. Aqui está a minha vida, as nossas vidas conectadas, e o legado de Ost para nossa geração. Encontrei minha religião, encontrei o que vale a pena dedicar a minha existência, encontrei minha luta. Pois os ponderados continuarão ponderando, sempre um saco de pontos de interrogação e incerteza, e insegurança, verão o barco afundar enquanto afundam na própria hipocrisia sofista. É hora dos radicais livres jogarem as pedras.

A SOMBRA DE PÃ: A DEEP ECOLOGY

Um sábio alemão de nome Lichtenberg, relata este sonho estranho: quando se vangloriava de conseguir identificar, graças a análise química, os componentes de qualquer objeto, apareceu-lhe um velho sobrenatural, no qual poderíamos reconhecer facilmente a figura de Deus. O velho tira do seu saco um objeto esférico e desafia o químico a analisá-lo. Lichtenberg põe de imediato mão a obra: ele esmaga-o, amassa-o, precipita-o, analisa-o, e acaba por elaborar uma lista dos elementos: carbono, hidrogênio, oxigênio, azoto… O velho, tendo vindo buscar a resposta, anuncia-lhe que a bola não era senão o globo terrestre – e eis as catástrofes provocadas pelas suas manipulações: a atmosfera dissipada no seu sopro, os oceanos ainda húmidos no seu lenço, as montanhas poeiras na sua faca… Abalado, Lichtenberg pede uma nova oportunidade; magnânimo, o velho tira um novo objeto do saco. Desta vez, Lichtenberg cai de joelhos, vencido: tratava-se de um livro.

GAIA GENETRIX

Assim, a utopia moderna inaugurada pela Nova Atlântica, de Fracis Bacon, termina em pesadelo com a fábula de Lichtenberg. A razão racional julgava poder definir o mundo – raciociná-lo -, podendo mesmo destruí-lo. O sonho de Lichtenberg atormenta, a partir de então, os nossos contemporâneos. O mundo não se reduz a uma soma de objetos materiais e o seu princípio não reside unicamente em disposições mecânicas. E, considerando as coisas apenas sob o ângulo material, somos também reduzidos a condição de objeto. Então, como Lichtenberg, ganhamos medo e pedimos uma segunda oportunidade.
Assim, coloca-se pela primeira vez – vivemos esse momento – a questão da nossa relação com a natureza. Pela primeira vez, segundo parece, é posta em questão a segurança soberana, prometeana, do homem moderno, cartesiano, certo em compreender as leis da natureza e, logo, autorizado a gozar delas e a modificá-las, quando necessário. Não estará o homem, parasita prolífico, em vias de esgotar o organismo que o alimenta? Estaremos nós, realmente certos, de que nossa ciência e a técnica que a acompanha agem com discernimento sobre o curso das coisas? E, mesmo que nos garantisse a simples sobrevivência, que sentido teria uma existência num mundo ascético, banalizado, standartizado, cuja beleza, eventualidades e selvajeria teriam desaparecido? E o homem moderno interroga-se se não seriam os antigos que tinham razão, ao considerarem que a terra não pertence ao homem, mas, muito pelo contrário, é o homem que pertence a terra. Esta interrogação fundamental é sustentada por um impulso romântico extraordinário de retorno à natureza, verdadeiro paraíso perdido, tanto revestido de todas as seduções da virgindade como da majestosidade do sagrado.
À relação cintífica e manipuladora da material, que é uma relação de distanciamento e objetivação, substitui-se uma attitude fusora de osmose com a natureza – simultaneamente culto do corpo do canto poético, neutralização do corpo e humanização da terra.

         Então o Ocidente inventa novos mitos, como o Tarzan, por exemplo: Tarzan, o homem-macaco, que, voando de liana em liana, parece tomado pelo elemento natural; ele não está na natureza como o colono desastrado que progride com dificuldade ao nível do solo, ele é a própria natureza, expressão viva de uma harmonia possível com o grande todo que nos rodeia. No registro onírico que lhe é próprio, a linguagem da publicidade partilha igualmente desta procura de fusão entre o mundo familiar dos objetos que nos rodeiam e a natureza ambiental. É, assim, reativada a mais antiga e mais poderosa de todas as fantasias: o desejo de retorno às origens. E o nosso contemporâneo recorda que, de todas as origens, é ainda a natureza a mais original. De fato, a natureza não é senão isso: A ORIGEM. Uma origem permanentemente originadora, como lembra a sua etimologia: natura, natus: nativus, reportada à raiz indo-européia gn, que dará <nascer>, <engendrar>. A natureza é uma matriz infatigável que não para de engendrar; ela é o advém, permanentemente; é a própria vida. Não há um só povo que não tenha desenvolvido uma mitologia , a partir desta espécie de criação cósmica que encontra o seu princípio na natureza. Mas o homem moderno julgara poder renunciar a este discuro obscuro das origens. Com a angústia contemporânea gerada pelo nosso Homo sapiens, este diacurso é hoje reativado sob sua forma mais clássica: o regresso ao <seio> desta mãe natureza, a Gaia genetrix das origens. É a nostalgia da idade de ouro das origens, a terra prometida de todas as utopias e de todos os eldorados, a promessa de uma segurança reencontrada, como o canta Lamartine em Le Vallon:

<Mas a natureza existe, convida-te e ama-te;
Mergulha no seu seio sempre acolhedor.
Quando para ti tudo se altera, a natureza persiste,
E assim o mesmo sol nasce cada dia.>

Desenvolve-se então uma consciência mais profunda da interdependência entre todos os seres vivos, bem como entre estes e a terra que os comporta – uma consciência que não é apenas de ordem científica (o paradigma ecológico <sistemático>), mas também e sobretudo da ordem do mito fundador, que confina com o panteísmo, não hesitando alguns em sustentar que a consciência não é um privilégio da humanidade mas antes uma propriedade planetária global. É efetivamente a música do deus Pan, que aqui se faz ouvir: uma música estranha e envolvente deste semi-homem, semianimal, sobre o qual a mitologia nos lembra que assombrava as paisagens da antiga Arcádia, ficando de preferência à entrada das grutas. Tudo concorre para coerência desta representação: a Arcádia, símbolo da natureza virgem; a entrada da gruta, metáfora da matriz maternal, e a figura do próprio deus que não se sabe se é homem ou animal. Pan introduz-nos num universo pré-lógico: o mundo da fusão original antes da separação das coisas e das idéias, dos gêneros e das espécies.
O mundo de Pan é o de um continuo resvalar de deuses e homens e de homens em animais, um mundo sem fronteiras onde <tudo está em tudo>, um mundo de correspondências infinitas no seio da mãe natureza, a antiga Gaia genetrix. Pan é o guardião das grutas de Gaia, o intermédio da natureza inesgotável.

Esta sacralização da natureza faz-nos reconciliar com as raízes mais antigas das nossas civilizações, com o tempo em que o mundo não estava ainda desencatado, e em que a Aliança entre o homem e o cosmos não estava ainda enfraquecida. Poder-se-ia evocar, por exemplo, no que se refere à tradição judaico-cristã, o tema do arco-íris que, na história de Noé, assinala o fim do Dilúvio – paradigma de todas as catástrofes ecológicas -, e a reconciliação entre o homem, a natureza e Deus. Mas, convém dizê-lo claramente, as grandes religiões monoteístas, como a religião judaica, o cristianismo e o islamismo, baseiam-se na separação (e, eventualmente, na aliança subsequente) e não na fusão panteísta. Em contrapartida, a cultura dos Índios da América do Norte guarda alguns tesouros desta idéia panteísta da harmonia natural. Bastaria citar, por exemplo, Seatle, chefe dos Sioux, na resposta que dirigia ao governador de Dakota, que lhe pretendia comprar as terras da tribo:

<Para o meu povo, não há um pedaço de terra que não seja sagrado – uma agulha de pinheiro que cintila, uma margem arenosa, uma bruma leve no meio dos bosques sombrios. Tudo é sagrado aos olhos do meu povo. A seiva que cresce na árvore contém em si própria a memoria dos peles-vermelhas. Cada clareira, cada inseto que zumbe, é sagrado na memoria e na consciência do meu povo. Nós fazemos parte da terra e ela faz parte de nós. Esta água cintilante que corre pelos ribeiros e rios não é apenas água, é o sangue dos nossos ancestrais… Porque se tudo desaparecesse o homem poderia morrer numa grande solidão espiritual. Todas as coisas estão ligadas entre si, Ensinai às vossas crianças o que ensinamos às nossas sobre a terra: que ela é nossa mãe, e que tudo o que lhe acontece acontece-nos a nós e aos filhos da terra. Se o homem desdenha a terra desdenha a si próprio. Disto temos a certeza. A terra não pertence ao homem, mas o homem quem pertence à terra.>

Mais próximo de nós, poderíamos citar inúmeros poemas românticos que celebram o espírito em obra na natureza. Uma natureza habitada de <palavras confusas> e povoada de <olhares familiares>, com a qual a consciência descobre profundas afinidades. O poema Correspondances, de Baudelaire, abre aqui a via. No <templo da natureza>, os objetos que nos olham e nos falam perdem a sua objetividade e adquirem a <expansão das coisas infinitas>. Entre eles e nós desenvolvem-se inúmeras harmonias , que reavivam a memoria de um parentesco perdido entre o sujeito e o objeto. Nestas <florestas de símbolos>, os <perfumes, as cores e os sons estão em simetria >; o homem atinge aqui um estado de êxtase, marcado pelo <transporte do espírito e dos sentidos>.
Esta sacralização da natureza retorna hoje, tanto sob formas hedônicas, como, pelo contrário, nos discurso da culpabilidade.
São, então, os temas do pecado original (a <violação> da natureza, a <poluição> que é da ordem da profanação da natureza virgem) e da condenação, sob a forma de exílio do paraíso original, que reaparecem em força como no discurso do naturalista Jean Dorst: <O homem, escreve, surgiu como um verme num fruto, como uma traça num novelo de lã, e arruinou o seu habitat segregando teorias para justificar a sua ação.

Será chegada a hora da punição? Será que se prepara um novo dilúvio? Tudo leva a crer que sim, sustentam estes autores, salvo redenção, sempre possível, que consiste aqui em encontrar o caminho da aliança, que é também a via do AMOR. <A natureza só será salva, escreve ainda Jean Dorst, se o homem lhe manifestar um pouco de AMOR.> E Jean –Marie Pelt acrescenta: <É conveniente renovar a aliança imemorial do homem com a vida, a natureza, o Universo… ajardinar a terra com AMOR, como no tempo do Éden… porque poderá voltar a ser Éden amanhã.>
Fortemente carregado de emoção, o tema da natureza mãe, da natureza sagrada, da natureza sujeito de direito, não releva , no entretanto, exclusivamente dos registros da poesia e do misticismo. Ele alimenta igualmente poderosas correntes de idéias, que culminam em teses éticas e soluções jurídicas que é necessário agora apresentar e discutir. Neste capítulo, iremos concetrar-nos nas teses da ecologia radical; as teorias favoráveis aos direitos dos animais serão objeto de sequente desenvolvimento.

PENSAR COMO UMA MONTANHA

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

TRÊS MEIA

Qual o sentido do próximo passo ?
Por que se faz necessário mover-se ?
Minha retórica pode soar de diversas formas;
a mim parece engraçado...

É natural que a inércia me atraia.
Se assim digo, é porque simplesmente assim É;
Sou fiel ao fluxo de consciência que canalizo
pois me permito transparecer,
minha Natureza é filosófica, e isso me constitui
como se eu pudesse ver o mesmo caminho
do começo ao fim;
e do fim ao recomeço...

Giro 360 graus sobre o mesmo Eixo
dei uma volta inteira, vislumbrei tudo o que me circunda;

Gostei que fiquei um pouco tonto com esse ciclo,
mas girar no mesmo lugar as vezes não faz sentido.

O que me constitui, é o que me move.
Se não encontro o sentido do próximo passo
também não vejo motivos para ficar girando.

A inércia me atrai.

A não ser pelo fato de que as vezes ficar girando dá um barato.. hehehe
E isso não faz sentido... mas não deixa de ser engraçado