terça-feira, 28 de setembro de 2010

Re: Crônica - Pra Falar de Amor‏

Yam, meu amor, tu és poeta! Que coisa, estou tão surpresa... uma bela surpresa! E me senti super honrada de ser a primeira a ler teu texto poético. Fiz algums mínimas modificações, coisas de vírgula, esses/estes, etc. (o texto revisado está logo abaixo), mas quando se trata de poesia, há mais liberdade, a tal da liberdade poética, onde quase tudo é permitido.
Manda sempre os teus textos, eu adoro.

Só uma pergunta: a musa existe? Ou ela também foi inventada, como o amor?
Beijos e saudades de uma ilha distante.




             Coração, hoje eu sonhei contigo. Acordei o homem mais feliz do mundo. Na verdade não sei dizer se eu sonhei ou realmente te vi. Eu vi muito mais do que os meus olhos jamais puderam enxergar. Tamanha luz que emanava de nós dois ofuscava e comprometia minha visão. Mesmo assim, Coração, era tudo tão lindo. Não sei se eu consigo chegar onde a gente estava. Não sei se eu consigo explicar o que aconteceu. Mas agora uma parte de mim a ti pertence; pelo menos até que tu permitas que eu arrume as minhas coisas e vá de novo.            
           
            De novo; eu já fui antes. Este espaço vazio que eu tenho dentro de mim esteve sempre à espera do seu perfeito preenchimento. És tu que me fazes completo agora. Eu dependo de ti para sonhar de novo o sonho que outrora eu fui. Nós fomos. Perfeitos. Perfeito. Uma só doce e iluminada perfeição. Com certeza, tu és o meu caminho até o divino. O mais perto que eu cheguei do amor verdadeiro.

            ...

            Mas na verdade, como eu, tu és mortal. Neste mundo material tudo perece; tudo morre; tudo acaba. Do sonho, eu acordo. Do amor, eu me desapego (rasgo o meu coração costurado no teu - sangria desatada- sou forte- agüento). Do divino, ilusão. O tempo passa e corrói tudo e desintegra e mata e apaga. Sem vestígios. Tu não precisas mais de mim como eu de ti. E eu já sabia disso... Desde o início, eu sempre soube. Em agonia, hoje vou dormir o homem mais infeliz do mundo.

            Mas Coração, saiba que este meu espaço vazio será preenchido novamente. Assim como o teu; esse está sempre esperando por novas figuras capazes de interpretar o teu Coração. Este amor potencial será utilizado por novas pessoas. As formas mudam; rostos, personalidades, vibrações. Vou do céu ao inferno mil vezes para entender o que agora eu te explico:

            Eu me enganei, Coração. Este amor não é teu. Nunca foi. O amor que eu tenho por ti fui eu quem criou. Esse sonho tão lindo que eu vi, veio dos meus próprios olhos. Essa beleza toda que eu sintonizei é a beleza que habita dentro de mim. A perfeição que eu toquei... Meu Deus, a perfeição que eu toquei!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O Exercício

Por: Yam CH. Reis           

            Opa, tudo bom? Como estão? Seguinte, hoje eu quero propor um exercício para vocês tentarem junto comigo ao passo em que lêem. Tive esta audaciosa idéia um dia destes. Não sei se vai ser exitosa – acredito que não- mas vou testá-la convosco.

            Primeiramente permitam que eu faça uma breve introdução. Eu escrevo por dois motivos básicos: porque é importante para mim, para que eu possa esclarecer pensamentos, projetá-los em escritos, e assim livrar-me destes; porque eu acho que quando escrevo sobre um conflito das profundezas do meu ser estou a escrever sobre um conflito de todos os seres, e, se a mim esclarece idéias, espero que a vocês faça nascer idéias, mutar idéias, confundir idéias... Enfim, qualquer alteração em um estado inerte e esquecido ou não muito valorizado já é um grande passo para um homem, também para humanidade.

            Para este exercício preciso que vocês leiam com muita concentração, com muita vontade e com muita imaginação. Leiam len–ta-mente. Não prestem atenção no texto em si, mas em suas mentes. Tentem fazer dar certo. Tentem sentir de fato o proposto. Depende muito mais de vocês do que de mim.

            Pois bem, vamos aquecer ao ler o seguinte: na verdade eu não creio que eu simplesmente escreva algo. Eu somente me concentro ao máximo para psicografar esquizofrenias. Relativo? Acredito que todos escutam vozes dentro de si que dizem coisas em comum. O timbre, o tom, as particularidades da sua voz é simplesmente uma possibilidade de ser fragmentada de uma mesma voz que é. Neste exato momento o que você lê está sendo narrado em sua mente. Preste atenção na voz que narra. É a minha? Não. É a sua própria voz. A nossa. A minha. Sim, eu que estou aqui... Não negue a minha presença, apenas sinta.

            Imagine comigo: Nós estamos (você) em um lugar totalmente escuro. Somente você existe neste lugar onde nada se vê. Na sua frente existe um grande espelho. Você me enxerga neste espelho. Eu sou você refletido, a voz que narra. Eu sou o que você enxerga que você é. Eu sou o seu Ego. E não sou você de fato. Você não é o que enxerga de você, mas o que sente mais intensa e profundamente que É!
           
             Feche os olhos e concentre-se nisso.
           
            Você está olhando para mim (você no espelho) ainda sendo você. Olhe para baixo. Você tem uma arma nas mãos, a engatilha, mira para mim (seu reflexo), e dispara na cabeça.
            Assista sua trágica morte...

            Sinta a sensação de matar você mesmo, porém ainda não matou a mim, a voz que narra. Preste atenção em suas mãos agora. Você ainda tem a arma nas mãos. Aponta para nossa própria cabeça desta vez. Dispara!

            Viu alguma coisa? Sentiu algo? Um freme escuro? Claro? Uma sensação esquisita?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ruínas e a Esperança

Por: Felipe Albuquerque                   


               My lips like sugar. Doce açúcar de nossas lindas. Fêmeas , que sem se dar conta dão graça às vidas. Dão graça à vida do Elisando da padaria, do Josué da imobiliária, do Carlos, o mendigo. E, também, dão graça à minha vida. Então lhe pergunto: por que você, caro amigo, vive durante os cinco dias úteis da semana? A resposta é simples. Porque sabe que há de vir o final de semana. Toda semana precede seu próprio ápice, o cume, a recompensa, ou ao menos a esperança de achar uma menina interessante: ah, o fim de semana!
               Você pode ser um verme, o qual passa todas as sextas e sábados se chapando a noite inteira e não se relaciona com alguém do sexo oposto há meses. Vai na cidade baixa e gasta toda sua grana em drogas, e todo o dinheiro que não gasta com álcool é consumido em laricas podres de ambientes inóspitos e gordurosos, a exemplo de Speed, Dog do Élio ou Dog do Gordo. Digo, você está frequentemente completamente chapado e lesado nos finais de noite, sem conseguir trocar simples palavras com uma mulher, e dá uma nota de 5 reais para pagar a cerveja de 2,20, a moça gorda que trabalha no balcão lhe pede 20 centavos para facilitar o troco, mas você não compreende porque está chapado e não entende nada, pensa que ela está tentando lhe roubar, lhe ludibriar, passar para trás. Todos estão te observando, e é difícil ocultar de sua expressão facial os distúrbios e inseguranças consequentes da pressão social. Você só quer ingerir toda a gordura daquele xis fedido e molhado logo, para então dormir e acordar arrependido.
               Mas os contextos também mudaram. Antigamente, você via esperança nos finais de semana. A beleza dele era que todos eram como o primeiro. Sua esperança se renovava: uma gatinha que lhe achasse lindo, uma bela prenda a qual desse fartura à sua tiriça. O olhar de uma menina seria como um renovador de forças, a vazação de uma gostosa lhe concederia energia para continuar. Como um checkpoint do Mario Kart, a vazada lhe dava saldo para permanecer saindo por mais duas semanas e meia.
               Hoje, você já sabe da ruína que lhe aguarda nas podres ruas da CB. Mas a inércia lhe conduz ao pecado. O colégio desperta a mais profunda nostalgia e agora o capitalismo reina. Pensamentos destrutivos começam a surgir; mulheres só querem dinheiro, o ser humano é egoísta por natureza. Mas mamusca te cobre com lençóis e dá boa noite. A cerveja nos aproxima e a vida é podre. Mas é boa.
               “My lips like sugar”. No que te faz pensar essa frase? Talvez você seja um ignorante em inglês e não pense em absolutamente nada. Pois lhe traduzo: meus lábios como açúcar. Passei dez dias na cidade maravilhosa com alguns amigos ano passado. Por isso me lembro do Rio de Janeiro. A música tocava sempre nas festas, e as cariocas rebolavam. Não só rebolavam, mas também bebiam goles em câmera lenta, conversavam entre si em bares e cigarros sacados e acendidos de forma muito sensual. E eu filmava. O sotaque, o jeito, a magia. Tudo me encantava nas cariocas. A vida que sob certos aspectos pode ser tão fascinante.
               A cidade é do caralho. Fomos ver um jogo do Grêmio em um bar onde passavam vários jogos simultaneamente, isso no final de tarde. Conhecemos duas meninas viciadas em futebol que falavam do Botafogo e Fluminense. Eram a sujeira, mas fodase, convecemos elas a ir para onde estava hospedado o Hique e outros gaúchos maconheiros. O bar era perto da avenida de Copacabana, pegamos a avenida e andamos uns 20 minutos a pé até chegar no matadouro. Entramos no ap e Biel estava pelado e completamente chapado. Essa cena fez com que elas quase desistissem e voltassem, mas insistimos muito e elas, depois de algum hêsito, decidiram ficar e interagir com esses estranhos meninos. Fumamos um baseado da lenha Porto Alegrense. Elas não fumavam muito, davam curtos pegas e passavam logo para o próximo, quase que só para não fazer desfeita.... Estou cansado, outro dia conto o resto dessa interessante situação.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Primo Normal De Minha Cônjuge

Por: Felipe Albuquerque




               Chamava-se Júnior, mas era sutilmente apelidado de Estuprador. Estuprador, sim, assim chamava-se o único primo de minha esposa ainda lúcido, e que, portanto, cuidaria das crianças. Elas estariam também sob os cuidados de Billy da Pedra, seu companheiro de quarto, que estava de dieta e pesava 40 kilos. Estuprador mostrou-se um rapaz calmo e equilibrado logo em nosso primeiro encontro, quando estava escondido de baixo da cama, completamente nu, com um espeto na mão a olhar fixamente para a ratoeira que preparara. Achei estranho, mas pude ficar tranqüilo e ter total confiança de que ele não era louco, quando me explicou que estava, afinal, apenas tentando matar um suposto rato voador com o rosto de lúcifer, o qual não parava de gritar seu nome e convidá-lo para tomar chá no inferno. -Que alívio, pelo menos louco ele não era. -Para me deixar ainda mais a vontade, vestiu seus andrajos e me fez a proposta quase irresistível de tomar um alucinógeno chamado Portal do Inferno, mas, não sei exatamente por que, algo naquela droga me dizia que não seria uma boa idéia.

domingo, 12 de setembro de 2010

Devaneios Sobre Aquele que Não Discerne

Por: Pedro Bigolin


            Era uma bela quarta-feira e eu estava perfeitamente em harmonia com a minha escrota rotina no meu Mercedez-Benz com motorista particular que, solidariamente,  faz paradas em locais combinados para altruisticamente abrigar mais passageiros da agonia, pois não possuidores de meio de locomoção próprio.


            Me deparo então com um homem, de aproximadamente 50 anos, com síndrome de Down. Na medida em que o omnibus freava para receber mais gente, o rapaz imitava o grunhido das pastilhas de freio, sem hesitar por um segundo que fosse em repetir a sonoplastia. Ele não pensava que havia uma dúzia de pessoas que não estavam gostando, ou que não estavam prestando atenção, já que o estresse os mantinha em bolhas acústicas, ou, ainda, ele não pensava na maldade com que os outros o enxergavam.

            Ele não pensava (?). Ao contrário da maioria, eu estava gostando, não só porque me fez tetiar horrores no meio desse mecânico cotidiano, mas porque eu percebi que ele estava feliz. Sim, feliz! E só por imitar uma máquina em pleno funcionamento. Ele pensava, mas sem a malícia de um adulto. Era uma felicidade ingênua, pura, infantil. Fiquei feliz em vê-lo feliz. Isso me fez pensar em até que ponto é válido o discernimento sobre a existência, se não sabemos fazer uso deste. Melhor não ter então. Porra, ele tem problemas muito mais sérios que os nossos e está lá, rindo sem motivo enquanto um bando de gente saudável se preocupando com tanta mediocridade!

            Em meio aos "rrrrrum, úúúúúúrrrrrshhhhhh" ele olha pra trás, me percebe ali e faz um gesto, sorrindo: "(y)". Ganhei meu dia com essa demonstração transparente de bom humor. Foi tipo: "Relaxa meu velho e curte, só curte." Eu devolvi a gentileza com um posterior suspiro, que purificou minha mais profunda amargura, olhando para fora e vendo que o dia estava lindo, e isso me bastava, numa sensação de completude. Duas paradas depois eu desci e, olhando pra ele repeti a saudação e ele respondeu, extremamente risonho.



 Então é isso aí gurizada... :D (y) pra todo mundo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Tic-Tac Tic-Tac Tic-Tac Tic-Tac Tic-Tac Tic-Tac...

Por: Yam CH. Reis


          Tempo, tempo, tempo. Quando serei capaz de desvendar todas as suas artimanhas?

          Hoje meu diálogo é contigo. Será que conseguirás responder o bombardeio de interrogações que guardo pra ti desde que despertei na tua casa? Como podes ser tu um cara tão contraditório? Pois se há pouco tempo atrás me disseste que seria pra sempre. Ao menos parecia... Ah, sim! Desculpe-me. Recordei-me que me avisaste que tu passarias por mim. No entanto nunca te vi passar! Vistes como és contraditório?

          Sim, és um cara muito contraditório. Amadurecer é o que? Existe a conotação de tempo mas não necessariamente a implica sempre. Envelhecer é o que? Implica sempre o tempo, mas não necessariamente a maturidade. Eu tinha ambições há pouco tempo atrás. Ambições frustradas porque tu passaste muito rápido, nem te vi p* no c*! Olho pra trás e vejo registros do que eu fui. Lembro de tudo perfeitamente. Dentro de mim acredito que tu ainda não passaste. Por isso lembro-me tão bem. Sou o mesmo que fui, porém diferente. Como pode isso SER?

          Eu não te vi passar, só posso estar louco, pois fiquei atento o tempo inteiro. Prestando atenção em tudo o que fazia, era tudo tão real, mas hoje não é mais nada, virou nada. Os registros que disse que vejo não são mais nada a não ser registros de outra pessoa, que parece continuar naquele mesmo lugar, vivendo aquele mesmo momento, sendo. E eu?! Aonde eu estava? Aonde eu estou agora? Parece que estou em um presídio atemporal. Olhando para trás, tentando entender como o tempo chegou até mim quando eu nunca cheguei até ele.

          Minhocas. Maldito tempo, creio que tu estás a me chacotiar! Vamos, fale algo, responda!



...



          Essa é a resposta do tempo. É tudo o que ele sempre te dirá: nada. E respondendo nada ele continua me fazendo pensar e pensar. Enquanto eu penso o tempo passa. Mas o que é realmente estranho é que eu fico olhando, observando, percebendo, sentindo tudo, e nada acontece... Até o momento em que – de repente!- tudo já aconteceu.