domingo, 12 de setembro de 2010

Devaneios Sobre Aquele que Não Discerne

Por: Pedro Bigolin


            Era uma bela quarta-feira e eu estava perfeitamente em harmonia com a minha escrota rotina no meu Mercedez-Benz com motorista particular que, solidariamente,  faz paradas em locais combinados para altruisticamente abrigar mais passageiros da agonia, pois não possuidores de meio de locomoção próprio.


            Me deparo então com um homem, de aproximadamente 50 anos, com síndrome de Down. Na medida em que o omnibus freava para receber mais gente, o rapaz imitava o grunhido das pastilhas de freio, sem hesitar por um segundo que fosse em repetir a sonoplastia. Ele não pensava que havia uma dúzia de pessoas que não estavam gostando, ou que não estavam prestando atenção, já que o estresse os mantinha em bolhas acústicas, ou, ainda, ele não pensava na maldade com que os outros o enxergavam.

            Ele não pensava (?). Ao contrário da maioria, eu estava gostando, não só porque me fez tetiar horrores no meio desse mecânico cotidiano, mas porque eu percebi que ele estava feliz. Sim, feliz! E só por imitar uma máquina em pleno funcionamento. Ele pensava, mas sem a malícia de um adulto. Era uma felicidade ingênua, pura, infantil. Fiquei feliz em vê-lo feliz. Isso me fez pensar em até que ponto é válido o discernimento sobre a existência, se não sabemos fazer uso deste. Melhor não ter então. Porra, ele tem problemas muito mais sérios que os nossos e está lá, rindo sem motivo enquanto um bando de gente saudável se preocupando com tanta mediocridade!

            Em meio aos "rrrrrum, úúúúúúrrrrrshhhhhh" ele olha pra trás, me percebe ali e faz um gesto, sorrindo: "(y)". Ganhei meu dia com essa demonstração transparente de bom humor. Foi tipo: "Relaxa meu velho e curte, só curte." Eu devolvi a gentileza com um posterior suspiro, que purificou minha mais profunda amargura, olhando para fora e vendo que o dia estava lindo, e isso me bastava, numa sensação de completude. Duas paradas depois eu desci e, olhando pra ele repeti a saudação e ele respondeu, extremamente risonho.



 Então é isso aí gurizada... :D (y) pra todo mundo.

2 comentários:

  1. bá meu, que afude, imaginei muito bem essa cena, senti a mesma alegria..
    a gente vai se dando muita importância né véio, muita arrogância na real, de acha que os nossos problemas são grandes demais ao ponto de poluir nossa vida com problemas irrisórios, quando basta ver uma cena dessas pra percebermos o quanto ridículo nos estamos sendo..

    o mais teto é que eu sonhei com uma criança hoje, um nenezinho..
    eu ficava horas simplesmente me comunicando com olhares e gracinhas com o bebe.. acordei muito feliz e tranquilo, muito afude véio parabéns bigolis, sensacional..

    os textos estão sem assinatura mas esse texto é do Pedro Bigoli.

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  2. em algumas partes eu me perdi pensando no quanto eu sou mal humorado. Mas o lance da Mercedes é algo familia pra mim...

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