segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Nave do Pensamento

            Ahh... (!) eu sento-me, começo a prestar atenção no professor. Ele quer comunicar-se comigo, esmera-se, esforça-se, e eu também; tento receber aquela mensagem - o conhecimento específico. O professor transmite, mas, em algum momento da viagem quântica das vibrações emitidas por suas cordas vocais, o conteúdo da sua mensagem vai perdendo-se, transmutando-se, e, quando chega até seu receptor, a mensagem perde o axioma do qual foi investida.
            Talvez, simplesmente, o professor fale muito lentamente, o que gera muito espaço e tempo para que a mente demasiada ágil do receptor distraia-se e repare nas suas vestimentas, na maneira como o professor interage; poderá fazer uma análise psicológica do professor, ou uma análise do fato social que é a aula; poderia ainda pensar sobre a formatação do ensino – se é adequada, ou não... São tantas milhares de conjecturas. Cada uma - um elo; de elo em elo o pensamento liga-se um no outro e torna-se capaz de constituir uma estrutura de tele transporte.
            A nave do pensamento guia o receptor para diversos pontos no espaço e no tempo. No passado todas as cenas têm o mesmo peso dos sonhos – são apenas cenas imprecisas (mesmo a melhor das memórias), representações de sensações; é quase artístico lembra-se, é lírico, melancólico... Por horas segue o viajante na nave, regredindo nas suas memórias como se estivesse assistindo a um filme – até a trilha sonora ele consegue escutar. Em uma memória específica ele ancora a nave; aquela cuja sensação é a melhor de todas, a cena é a mais linda, a trilha também... Ali permanece o viajante por muito tempo; quanto mais tempo ele permanece ali, mais ele imerge na sensação – goza intensamente daquele momento – que coisa linda ele achara dentro de sua cabeça. Por que sair dali? E, quando quase entrando em estado meditativo, lembra-se: “não sou viajante, sou receptor, e sou um péssimo receptor, não faço idéia o que este homem estranho à minha frente está a falar por horas. Se por horas eu estive viajando, significa que perdi horas do discurso específico – logo, terei horas de estudo me aguardando. Mas ESSE é o momento da aula! Quanta perda de tempo.” “Estúpido!” Fala de si para si o sujeito. Todavia ele sabe que a nave do pensamento está o aguardando para subtraí-lo a qualquer instante...
            A nave subtrai a atenção para um foco mental fora do aqui/agora e leva a presença do ser para uma viagem. Desta vez para o futuro. O viajante, não que ele tenha medo (normalmente os viajantes desconhecem o medo. A sua curiosidade é maior que o medo a ponto de interessarem-se inclusive por ele. Quando o medo é sentido por curiosidade, a consciência analítica quase que o dissolve por inteiro – ele é demasiado relativo para o viajante empírico.), mas ele não sabe como se encaixar, muito menos ordenar a nave do pensamento. Nesse sentido, a viagem para o futuro torna-se complexa, confusa, disléxica, talvez inútil (?), ou não. Quem manda é a nave, o viajante só se permite (mesmo quase coagido).

            “Eu poderia ser um jornalista. Posso viajar e relatar. Eu poderia ser um escritor. Resgato histórias, aplico uma pitada do por vir desconhecido do futuro, um pouco de liberdade artística... Poderia ser um poeta, ou um músico se eu conseguir tocar o piano. Resgato as sensações e as toco. Eu poderia ser um psicólogo, afinal, muito já viajei pela psique do ser humano. Poderia não ser nada disso. Se a nave não me der o presente da paz serei somente um louco.” Pensava o receptor viajante.

            A nave do pensamento me deu o presente eterno. Mas quem aprende a conduzi-la tem muito mais que isso.

3 comentários:

  1. Esse post narrou as manhãs do meu cotidiano. Uma hora dessas as nossas naves se cruzam por aí! Se bem que estamos todos na mesma nave esférica, trilhando caminhos semelhantes rumo ao desconhecido... Serão As Naves do Pensamento um grande número de pensamentos individuais divagando pelo espaço e tempo de maneira singular, ou A nave do pensamento é um grande ventre que abriga todo esse nosso (indigo, violeta e cristal) turbilhão de pensamentos - desordenado, mas ordenado, construtivo, mas destrutivo, lúcido, mas obscuro - de maneira conjunta e fraterna, porém dando uma brecha de espaço para as individualidades?
    Enquanto isso, a consciência ordinária engatinha, com medo do próprio potencial, focada no professor - que, naquele momento, é o seu Guru.

    Excelente texto!

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  2. Keep thinking, keep feeling, keep writing, ...

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  3. Opa, belíssimo 'escrevendo', gostei bastante! Já to seguindo o blog...

    Estive hj lá na marcha da liberdade e falei contigo, deixei um zine do Movimento SOMA, do qual faço parte. Meu blog pessoal é http://vendooescrevendo.blogspot.com/ e o do coletivo é http://movimentosoma.blogspot.com/

    Estava pensando em fazer uma lista do pessoal que troquei idéia lá na marcha pra gente planejar e debater ações conjuntas, o que acha? Quais seriam os contatos que vc gostaria de add nesta lista?

    Abraços pensantes,
    Neo.

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